Pequena Indústria Afunda em Crise Financeira, Apesar de Leve Melhora no Desempenho

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/Arquivo


A pequena indústria brasileira enfrenta um cenário de deterioração financeira pelo terceiro trimestre consecutivo, segundo o Panorama da Pequena Indústria (PPI), divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 11 de agosto de 2025. O índice que mede a satisfação dos empresários com finanças, margem de lucro e acesso ao crédito caiu 0,3 ponto, de 40,6 para 40,3, entre o primeiro e o segundo trimestre de 2025. A combinação de juros altos, carga tributária elevada e aumento da competição desleal pressiona o setor, enquanto a confiança dos empresários despenca. Apesar disso, o desempenho operacional registrou uma tímida melhora, mas o futuro segue incerto.

Finanças em Queda Livre

A piora financeira é reflexo de um ambiente hostil para as pequenas indústrias. Segundo o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, a elevação da taxa Selic encarece o crédito, reduz a lucratividade e dificulta a gestão de dívidas. “As condições financeiras pioraram um pouco na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2025. Uma das explicações é a elevação da taxa de juros, que afeta diretamente o acesso ao crédito”, afirmou Azevedo. Desde o final de 2024, o índice de situação financeira acumula quedas, sinalizando um estrangulamento progressivo do setor.

O aumento da competição desleal, impulsionada por informalidade e contrabando, também ganhou destaque. Na indústria da construção, a percepção desse problema cresceu 7,6 pontos percentuais, enquanto a competição com importados subiu 4 pontos percentuais na indústria de transformação. A carga tributária, apontada por 40% dos empresários da transformação e 35,6% da construção, continua sendo a principal barreira, seguida pelos juros altos (37,3% na construção) e pela falta de mão de obra qualificada (24,6%).

Desempenho Sobe, Mas Não Inspira

Apesar da crise financeira, o índice de desempenho da pequena indústria subiu de 44,7 para 45,9 pontos no segundo trimestre, puxado por maior volume de produção, melhor utilização da capacidade instalada e aumento no número de empregados. Esse avanço, porém, é modesto e não compensa as perdas financeiras. A CNI destaca que o crescimento é sazonal e não indica uma recuperação robusta, especialmente diante de um cenário econômico adverso.

O otimismo, se é que existia, está minguando. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu para 46,7 pontos em julho, acumulando recuos em cinco dos últimos sete meses. As expectativas para o futuro também encolheram, com o índice de perspectivas recuando para 48 pontos, uma queda em dois dos últimos três meses. Esses números sugerem que os empresários estão cautelosos, temendo que os desafios estruturais, juros, tributos e competição desleal, continuem a sufocar o setor.

Pequena indústria enfrenta piora nas finanças pelo terceiro trimestre seguido, aponta CNI

Inovação como Tábua de Salvação?

Diante das dificuldades, algumas empresas buscam saídas em tecnologia e educação. Daniele Trindade, diretora da Trindade Soluções Construtivas, aponta que a integração com centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em universidades tem ajudado a otimizar processos e atender a critérios como sustentabilidade. “A gente está cada vez mais integrado com os eixos de P&D dentro das faculdades, que conectam bem a nossa cadeia de consumidores”, afirmou. No entanto, ela reconhece que a competição com importados, especialmente da China, é um obstáculo quase intransponível devido à escala e aos custos imbatíveis.

A inovação, embora promissora, não é uma solução imediata. A falta de crédito acessível e a alta carga tributária limitam investimentos em modernização, enquanto a informalidade e o contrabando corroem a competitividade das empresas que operam dentro da lei. Trindade também destaca a importância da educação para qualificar mão de obra e fomentar o consumo consciente, mas essas iniciativas demandam tempo e recursos que muitas pequenas indústrias simplesmente não têm.

Um Futuro Incerto

A pequena indústria brasileira está em uma encruzilhada. A leve melhora no desempenho operacional é ofuscada por uma crise financeira persistente, alimentada por juros altos, tributação opressiva e concorrência predatória. A queda na confiança e nas expectativas dos empresários reflete um setor que, apesar de esforços em inovação, luta para sobreviver em um ambiente econômico hostil. A CNI aponta que os problemas estruturais, como a falta de mão de obra qualificada e a competição com importados, não mostram sinais de alívio.

O que o futuro reserva? Sem reformas que reduzam a carga tributária, facilitem o acesso ao crédito e combatam a informalidade, a pequena indústria seguirá patinando. O governo precisa encarar essas questões de frente, mas as ações concretas ainda são escassas. Enquanto isso, o setor tenta se agarrar a soluções como tecnologia e educação, mas elas podem não ser suficientes para evitar um colapso mais profundo.

Fonte: Brasil 61

 

Raquel Lima

Sou Raquel Lima, jornalista dedicada a informar com qualidade e verdade. Busco temas relevantes, análises claras e coberturas que inspirem, sempre com compromisso e uma visão crítica dos fatos.

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