Um Histórico Comprometedor
A Aviacon Zitotrans, sediada em Ecaterimburgo, Rússia, opera uma frota de cinco aeronaves, segundo o site FlightRadar24, e tem um histórico de atividades que a colocaram na mira de sanções internacionais. Em 2023, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) dos EUA incluiu a empresa em sua lista de sanções por suspeitas de transporte de equipamentos militares para a Venezuela, além de apoio logístico a grupos como o Wagner, classificado por analistas e governos como uma organização de mercenários. Investigações americanas também apontam que a companhia forneceu peças de artilharia à Coreia do Norte, um regime sob forte escrutínio internacional.
Embora o avião em Brasília, com matrícula AZS1705, seja diferente daquele diretamente citado nas sanções (RA-78765), as restrições se aplicam à empresa como um todo, não a uma aeronave específica. Isso significa que qualquer operação da Aviacon Zitotrans é considerada potencialmente problemática, especialmente em um país como o Brasil, que mantém relações delicadas com os EUA sob a administração de Donald Trump.
Sob sanção dos EUA, avião russo que está em Brasília transporta material de guerra
O Que Está em Jogo?
A Força Aérea Brasileira (FAB) confirmou o pouso da aeronave às 8h12 de domingo, informando que ela permanece em Brasília com previsão de decolagem para quarta-feira, 13 de agosto. Questionada sobre a carga, a FAB declarou que apenas o operador do voo tem conhecimento do conteúdo transportado, limitando-se a controlar o espaço aéreo. “O nosso trabalho é controlar o espaço aéreo, não a carga”, afirmou um integrante da cúpula da FAB ao jornal Metrópoles. A falta de transparência sobre o que o cargueiro transporta é alarmante, especialmente diante do histórico da Aviacon Zitotrans.
Um ex-funcionário da FAB, ouvido pela Revista Oeste, classificou a presença do avião como “muito estranha”. O comentário reflete a preocupação de que o Brasil, ao permitir a operação de uma empresa sancionada, possa estar se envolvendo em atividades que contrariam interesses de aliados ocidentais. A coincidência do pouso com uma recente conversa telefônica entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o líder russo Vladimir Putin, no sábado, 9 de agosto, aumenta as suspeitas. Segundo o Planalto, os dois discutiram o cenário político e econômico global e a cooperação no âmbito do Brics, mas a proximidade dos eventos alimenta especulações sobre acordos não divulgados.
Repercussões Políticas e Diplomáticas
O pouso do cargueiro russo ocorre em um momento de tensão nas relações entre Brasil e EUA. A administração Trump, que já impôs tarifas de 50% sobre importações brasileiras, sinaliza descontentamento com a postura do governo Lula, especialmente após episódios como a autorização para navios iranianos atracarem no Rio de Janeiro em 2023. A presença de uma aeronave de uma empresa sancionada pode agravar essas fricções, especialmente se a carga envolver materiais sensíveis.
No Congresso, o caso já gera reações. Dois deputados da oposição, segundo a Gazeta do Povo, estudam requerer informações ao Ministério da Defesa sobre o motivo da entrada do avião, a natureza da carga e a tripulação. A falta de respostas claras do governo alimenta a desconfiança de que o Brasil pode estar sendo usado como ponto de passagem para atividades logísticas russas, em um contexto de crescente isolamento de Moscou no cenário global.
Perguntas Sem Resposta
Por que um avião de uma empresa sancionada por transportar material bélico está em Brasília? Qual é a carga exata a bordo do Ilyushin IL-76? E por que o governo brasileiro, ciente das sanções, permitiu o pouso sem esclarecer publicamente seu propósito? A FAB e o Itamaraty, questionados pela imprensa, não forneceram detalhes, enquanto a Sefaz-DF, responsável pela fiscalização de cargas, informou apenas que o processo de desembarque está sob análise.
O Brasil, que não adota as sanções americanas, não comete ilegalidade ao receber o avião, segundo diplomatas consultados pelo Metrópoles. No entanto, a decisão de permitir a operação de uma empresa ligada a atividades militares controversas levanta questões éticas e estratégicas. Em um momento de polarização global, o governo Lula precisa explicar se está priorizando interesses domésticos ou se alinhando, mesmo que indiretamente, com regimes sob escrutínio internacional. Sem transparência, o caso do cargueiro russo pode se tornar mais um capítulo de atrito com aliados e de desconfiança interna.
Fonte: Revista Oeste, Metrópoles, Gazeta do Povo