📍 Itabela (BA)
📌 Fonte: g1 / Apuração própria
Mais de 300 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram, nesta semana, a Estação de Zootecnia do Extremo Sul da Bahia, localizada às margens da BR-101, no município de Itabela. O espaço, que é referência em pesquisas de mitigação de gases do efeito estufa, manejo de pastagens e sequestro de carbono no solo, teve atividades paralisadas e infraestrutura danificada após a ocupação.
Segundo funcionários ligados à Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), órgão vinculado ao governo federal e responsável pela estação, os invasores cortaram cercas, fizeram ligações elétricas irregulares — gerando curtos-circuitos — e impediram o acesso dos trabalhadores ao centro.
A estação mantém parcerias com universidades do Brasil, Estados Unidos e Canadá. A interrupção do acesso pode comprometer experimentos em andamento e prejudicar projetos de pesquisa de longo prazo com repercussão internacional.
Reivindicações e histórico de invasões
O MST afirma que a ocupação é “pacífica” e tem como objetivo pressionar o governo pela retomada de um acordo que envolve o uso de terras federais desocupadas para fins de reforma agrária. O movimento argumenta que áreas sob gestão da União, como a da Ceplac, estariam sem função social e, portanto, poderiam ser destinadas a assentamentos.
Segundo nota divulgada pelo MST, o impasse envolve quatro órgãos federais: o Incra, a Secretaria do Patrimônio da União (SPU), o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a própria Ceplac. O movimento cobra a reabertura das negociações, que teriam sido interrompidas nos últimos meses.
A mesma estação de pesquisa já foi alvo de outras invasões anteriores, incluindo episódios em 2022 e 2024. Em ambos os casos, os danos estruturais e a paralisação das atividades científicas foram registrados.
Impactos para a pesquisa e silêncio oficial
Até o momento, não há definição de prazo para a desocupação. O Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento Agrário ainda não se manifestaram publicamente sobre o caso. A continuidade da ocupação pode colocar em risco anos de estudos financiados com recursos públicos e internacionais.
Funcionários do centro de pesquisa, sob condição de anonimato, afirmam que o bloqueio de acesso e os danos à estrutura elétrica inviabilizaram experimentos em andamento, além de comprometer a segurança das instalações.
A situação escancara a dificuldade do Estado em garantir a integridade de áreas públicas voltadas à ciência e levanta o debate sobre os limites das formas de pressão por reforma agrária — especialmente quando atingem bens coletivos e investimentos em pesquisa.