Relatório do governo norte-americano aponta que o incentivo ao Pix pode configurar prática desleal, mas não pede o fim do sistema; insatisfação reflete interesses de gigantes do setor financeiro
Um relatório oficial do governo dos Estados Unidos acendeu o alerta sobre práticas comerciais do Brasil consideradas prejudiciais a empresas americanas — entre elas, o uso e o incentivo ao Pix, sistema de pagamento instantâneo desenvolvido pelo Banco Central.
Segundo o documento divulgado nesta semana pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), o Pix estaria sendo promovido de forma "agressiva" pelo governo brasileiro, criando um ambiente de concorrência considerado desleal para empresas estrangeiras que atuam no setor de pagamentos eletrônicos, como operadoras de cartões de crédito e plataformas de tecnologia financeira.
Apesar das críticas, o relatório não sugere a suspensão ou o fim do Pix — mas expõe a insatisfação de grandes corporações americanas, que veem no sistema brasileiro um entrave ao avanço de seus próprios serviços no país. O USTR acusa o governo brasileiro de “intervenção indevida” no mercado de pagamentos ao oferecer uma solução gratuita, estatal e de ampla aceitação popular.
Além do Pix, o relatório volta a criticar a pirataria e a violação de direitos de propriedade intelectual no Brasil. Cita, como exemplo simbólico, a tradicional Rua 25 de Março, em São Paulo, apontando falhas no combate à venda de produtos falsificados, aparelhos de streaming ilícitos e videogames modificados. Segundo os EUA, a ausência de punições severas e de políticas de longo prazo prejudica empresas norte-americanas ligadas à inovação e ao setor criativo.
EUA veem Pix e pirataria como riscos para empresas no Brasil
O documento ainda menciona outros atritos comerciais entre os dois países, como barreiras ao etanol dos EUA, tarifas consideradas injustas, e alegações de discriminação contra companhias norte-americanas. Há também uma crítica à ausência de mecanismos mais efetivos de combate à corrupção no Brasil.
A inclusão do Pix no relatório, porém, chama atenção por expor uma disputa velada entre o modelo público de inovação brasileira e os interesses privados de multinacionais americanas. Enquanto isso, o sistema continua consolidado como o principal meio de pagamento do país — com mais de 160 milhões de usuários e aceitação em praticamente todas as esferas da economia nacional.