Diante das incertezas provocadas pela escalada do conflito entre Irã e Israel, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara uma mudança na política de combustíveis como forma de evitar aumentos no preço da gasolina. A principal medida em estudo é o aumento da mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina, que passaria dos atuais 27,5% para 30%.
A proposta, que vem sendo discutida desde o fim de 2024 no Ministério de Minas e Energia (MME), ganhou força nas últimas semanas com a possibilidade de aumento do preço internacional do petróleo. O presidente Lula teria solicitado pessoalmente ao ministro Alexandre Silveira celeridade na análise da medida, diante da instabilidade geopolítica no Oriente Médio.
Testes técnicos já foram realizados
A gasolina com 30% de etanol — conhecida como gasolina E30 — passou por testes técnicos em janeiro de 2025, conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia. Os testes incluíram veículos novos e antigos, e apontaram boa compatibilidade, ainda que tenham sido observadas instabilidades pontuais em veículos mais antigos, como dificuldades na partida e marcha lenta irregular.
No desempenho, a diferença foi registrada apenas na retomada de velocidade de 80 a 120 km/h, com variações entre –1,38s e +2,24s em veículos da fase L2 e L3 do Proconve. Segundo os técnicos, isso ocorreu porque os modelos avaliados já estavam no limite da operação mecânica, por conta da idade e quilometragem elevada.
Objetivo é econômico, não ambiental
Ao contrário de políticas anteriores, o foco da medida não é reduzir as emissões veiculares diretamente, mas sim fortalecer o ciclo de carbono renovável, já que o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar contribui para a captura de CO₂ na atmosfera. Além disso, a substituição parcial da gasolina por etanol nacional reduz a dependência externa e protege o consumidor de choques internacionais de preço.
Risco global: Estreito de Ormuz
A iniciativa ocorre em meio à preocupação crescente com o risco de fechamento do Estreito de Ormuz — ponto estratégico entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, por onde passa cerca de 20% de todo o petróleo comercializado no planeta.
O Irã ameaçou bloquear o estreito em caso de nova ofensiva israelense, o que levou o mercado a operar sob volatilidade intensa. Ainda assim, o anúncio recente de que a China poderá continuar comprando petróleo iraniano, com aval de Donald Trump, contribuiu para uma queda acumulada de 12% no preço do barril do petróleo entre segunda (–7%) e terça-feira (–5%).