O governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira, 13 de agosto de 2025, a revogação de vistos de funcionários e ex-funcionários do governo brasileiro ligados ao programa Mais Médicos, além de ex-representantes da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Em postagem no X, o secretário de Estado, Marco Rubio, classificou o programa como um “golpe diplomático inconcebível” e acusou a iniciativa de ser um esquema de “trabalho forçado” orquestrado pelo regime cubano. A medida, que já atinge nomes como Mozart Julio Tabosa Sales e Alberto Kleiman, do Ministério da Saúde, sinaliza uma escalada nas tensões entre Brasília e Washington, com Rubio prometendo ampliar as sanções contra autoridades brasileiras.
O Programa Mais Médicos e as Acusações
Lançado em 2013 pelo governo de Dilma Rousseff (PT), o Mais Médicos foi apresentado como uma solução para levar atendimento médico a áreas remotas do Brasil. A iniciativa, mediada pela Opas, trouxe milhares de médicos cubanos ao país, mas sempre esteve sob fogo cruzado. Críticos, incluindo Rubio, alegam que o programa era uma fachada para enriquecer o regime cubano, que confiscava até 75% dos salários dos médicos, mantendo-os sob condições de trabalho análogas à escravidão. Segundo o Departamento de Estado dos EUA, dezenas de médicos cubanos relataram exploração, com contratos coercitivos e restrições à liberdade de movimento.
Rubio, em sua postagem, foi categórico: “O Departamento de Estado está tomando medidas para revogar vistos e impor restrições a funcionários do governo brasileiro e ex-funcionários da Opas cúmplices do esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano.” O comunicado oficial aponta que a medida visa punir autoridades que “facilitaram a exploração de trabalhadores médicos cubanos”, privando o povo de Cuba de cuidados essenciais enquanto enriqueciam o governo de Havana.
Entre os alvos estão Mozart Julio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde, e Alberto Kleiman, ex-assessor de Relações Internacionais do Ministério da Saúde e ex-diretor da Opas. O governo americano não detalhou outros nomes, mas Rubio indicou que mais sanções estão por vir, ampliando o cerco a figuras ligadas ao programa.
EUA cancelam vistos de autoridades ligadas ao Mais Médicos
Contexto de Tensão Diplomática
A decisão vem em um momento de crescente atrito entre Brasil e EUA. Em julho, os EUA já haviam revogado os vistos de oito ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo Alexandre de Moraes, e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sob acusações de censura e perseguição política. A inclusão de autoridades do Mais Médicos na lista de sanções reforça a postura de Trump de pressionar o governo Lula, acusado de manter laços com regimes autoritários como Cuba e Venezuela.
O programa Mais Médicos, embora defendido pelo PT como um avanço na saúde pública, sempre foi alvo de críticas por sua opacidade e pelo tratamento dispensado aos médicos cubanos. Relatos de profissionais que desertaram do programa no Brasil revelaram condições de trabalho precárias, vigilância constante e confisco de passaportes, práticas que o governo americano classifica como “tráfico humano”. A Opas, que intermediava os contratos, também é questionada por supostamente lucrar com a operação, sem garantir direitos trabalhistas aos médicos.
Implicações para o Brasil
A revogação de vistos é mais do que uma medida simbólica: ela isola autoridades brasileiras no cenário internacional e sinaliza um endurecimento da política externa americana em relação ao Brasil. Para o cidadão comum, o impacto pode ser indireto, mas significativo. As sanções agravam a crise diplomática com os EUA, que já impuseram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, afetando setores como agricultura e indústria. A falta de resposta clara do governo Lula, que até o momento não se pronunciou sobre as novas sanções, alimenta a percepção de passividade diante de acusações graves.
Do ponto de vista econômico, as sanções reforçam a necessidade de o Brasil diversificar parcerias comerciais e reduzir a dependência de mercados ocidentais, uma bandeira do liberalismo econômico que o governo atual não parece priorizar. Em vez disso, a aproximação com o Brics e regimes como o cubano pode custar caro em termos de credibilidade e acesso a investimentos estrangeiros.
No campo social, a polêmica reacende o debate sobre a soberania nacional versus a submissão a pressões externas. Conservadores argumentam que o Brasil deve resistir a interferências americanas, mas também questionam por que o governo petista insiste em manter laços com ditaduras que exploram seus próprios cidadãos. A ausência de transparência sobre o Mais Médicos, mesmo após anos de críticas, levanta dúvidas sobre a lisura do programa e a responsabilidade de seus idealizadores.
O Que Está em Jogo?
Por que o governo brasileiro não esclarece os termos do acordo com Cuba e a Opas? Qual o real impacto do Mais Médicos na saúde pública, e por que as denúncias de exploração nunca foram devidamente investigadas? As sanções americanas, embora unilaterais, expõem uma ferida aberta: a falta de accountability em iniciativas que, sob o pretexto de ajudar a população, podem ter servido a interesses políticos e financeiros. Enquanto o Brasil patina na diplomacia, o setor produtivo paga a conta de um governo que parece mais preocupado com narrativas do que com resultados.
O Congresso, já em alerta com casos como o do avião russo sancionado em Brasília, pode pressionar por explicações. Deputados da oposição planejam questionar o Itamaraty e o Ministério da Saúde sobre o envolvimento de autoridades no programa. Sem respostas convincentes, o caso do Mais Médicos pode se tornar mais um símbolo de desconfiança, tanto interna quanto externa, em um governo que luta para manter sua legitimidade.
Fonte: Revista Oeste, G1, Metrópoles, Poder360, Exame