Apesar do investimento de R$ 1 bilhão para receber a COP30, em 2025, apenas cerca de 40 mil moradores de Belém (PA) — equivalente a 3% da população da capital — serão diretamente beneficiados com as obras de esgoto previstas para o evento. A informação foi revelada em reportagem do jornal Folha de S.Paulo e gerou frustração entre moradores das periferias, como os bairros do Tapanã e da Vila da Barca, que seguem à margem das intervenções.
O governo do Pará alega que as obras contemplarão mais de 500 mil pessoas, mas esse número inclui ações como drenagem urbana, pavimentação e reurbanização de áreas próximas a canais — e não necessariamente o acesso ao serviço de esgoto.
Promessas x realidade
O programa inclui 13 canais das principais bacias da cidade. Do total investido, R$ 900 milhões vêm do BNDES, e cerca de R$ 100 milhões da Itaipu Binacional. Contudo, segundo o Instituto Trata Brasil, apenas cerca de 10 mil novas ligações domiciliares de esgoto foram instaladas até agora, o que especialistas consideram insuficiente diante do déficit histórico de infraestrutura em Belém.
Comunidades cobram atenção
Luciano Pereira, morador do bairro Tapanã, lamentou: “Lá no centro, estão refazendo obra feita para mostrar na COP30, mas a nossa hora aqui nunca chega”. A crítica é compartilhada por lideranças comunitárias como Inês Medeiros, da Vila da Barca, que questiona a localização da estação de tratamento do canal Nova Doca: “É isso que sobrou para nós nessa COP30: querem que a gente fique com o cocô dos ricos”.
Já a consultora ambiental Amanda Quaresma classificou como decepcionante a ausência de ações nos igarapés prioritários: “O Mata Fome é a prioridade sempre esquecida, mas uma obra lá seria o legítimo legado da COP30”.
Governo defende critérios técnicos
O secretário estadual de Infraestrutura, Adler Silveira, afirmou que os critérios de escolha priorizaram áreas com maior densidade populacional e potencial de reorganização do trânsito urbano. Ele afirmou que a meta é “melhorar não apenas o saneamento, mas o escoamento do trânsito”.
Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES, reforçou que as obras são de macrodrenagem e urbanização, fundamentais para prevenir alagamentos, e não de esgotamento sanitário: “São vitais para que as pessoas não fiquem mais debaixo d’água”.
A Itaipu Binacional, por sua vez, disse atuar exclusivamente como financiadora, sem responsabilidade pela execução ou escolha dos projetos.