Estudo mostra que regiões periféricas concentram consumo relevante e otimismo crescente, apesar da ausência de serviços públicos essenciais
A economia das favelas brasileiras, frequentemente ignorada nas análises oficiais, apresentou números que chamam atenção: juntas, essas comunidades movimentam cerca de R$ 300 bilhões por ano, segundo levantamento do Instituto Data Favela, realizado em parceria com a CUFA (Central Única das Favelas) e a Favela Holding.
O valor estimado supera o Produto Interno Bruto (PIB) de países como Uruguai e Peru e representa mais que a arrecadação anual de 22 unidades federativas brasileiras. O dado reforça a relevância econômica de regiões historicamente marginalizadas.
Estrutura invisível, consumo visível
Com aproximadamente 12,3 mil favelas no território nacional, onde vivem mais de 17 milhões de pessoas em 6,6 milhões de lares, o estudo dá dimensão da pujança desse contingente que equivale à população da Região Norte do país.
A pesquisa também mostrou padrões de consumo:
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55% compraram produtos de beleza nos últimos três meses
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41% adquiriram roupas e vestuário
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60% realizam compras pela internet
A educação surge como uma prioridade entre os moradores: 43% pretendem investir em cursos, enquanto 29% querem aprender um novo idioma.
O contraste entre otimismo e carências estruturais
Mesmo diante da escassez de políticas públicas efetivas, o levantamento indica que 90% dos entrevistados estão otimistas quanto ao futuro. O número revela a resiliência social de um grupo que convive, cotidianamente, com serviços básicos precários ou inexistentes.
As principais demandas da população das favelas seguem inalteradas há décadas:
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19% desejam melhorias na qualidade das habitações
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18% pedem mais acesso à saúde pública
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18% reivindicam segurança
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14% apontam a carência de infraestrutura urbana como esgoto e iluminação pública
Um mercado ignorado pelo poder público
A pesquisa também chama atenção para o papel estratégico que essas comunidades podem exercer no desenvolvimento econômico nacional. Trata-se de um mercado com alto volume de circulação de renda e forte presença digital, mas que ainda opera à margem de políticas estruturantes e do olhar estratégico dos governos.