Brasil sai do Mapa da Fome da ONU, mas milhões ainda enfrentam insegurança alimentar


Menos de 2,5% da população brasileira enfrentou risco grave de subnutrição entre 2022 e 2024, segundo relatório divulgado nesta segunda-feira (28) pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), durante cúpula realizada na Etiópia. O número foi suficiente para retirar o Brasil, tecnicamente, do chamado Mapa da Fome.

O governo comemora a marca como uma vitória antecipada da promessa feita por Lula de erradicar a fome até 2026. O ministro Wellington Dias atribuiu o resultado ao programa "Brasil Sem Fome", lançado em 2023, que inclui transferências de renda e incentivos à agricultura familiar. "Não há soberania sem justiça alimentar", afirmou o ministro.

Mas os números exigem cautela. O indicador utilizado pela FAO se baseia em médias trienais e considera como “fora do mapa” qualquer país com menos de 2,5% da população em subalimentação crônica. Ou seja: mesmo com a saída técnica, o país ainda registra milhões de pessoas vivendo sob insegurança alimentar.

Em 2022, por exemplo, o próprio governo federal estimava que 8,4 milhões de brasileiros estavam em situação de fome. A taxa caiu ao longo de 2023 e 2024, impulsionada por programas como o Bolsa Família, que atualmente atende 19,6 milhões de famílias. No entanto, esse também é o menor número de beneficiários desde a reformulação do programa — reflexo da elevação de renda e de bloqueios a cadastros irregulares.

O relatório aponta, ainda, que o Brasil havia deixado o Mapa da Fome pela primeira vez em 2014, também sob gestão petista, mas voltou à lista entre 2019 e 2021. O governo atribui o retrocesso a cortes em políticas sociais. A atual gestão, por sua vez, utiliza a saída como trunfo político.

O discurso oficial ignora, porém, a persistência da insegurança alimentar em várias regiões do país e a fragilidade de famílias que dependem exclusivamente de programas assistenciais para garantir comida na mesa.

Embora o dado seja positivo e importante para a imagem externa do Brasil, a realidade no campo e nas periferias continua exigindo vigilância. O uso político do número pode até reforçar narrativas ideológicas, mas não substitui o compromisso com uma política pública eficiente, permanente e fiscalmente responsável.

Fonte: FAO / Ministério do Desenvolvimento Social / Jovem Pan News

Raquel Lima

Sou Raquel Lima, jornalista dedicada a informar com qualidade e verdade. Busco temas relevantes, análises claras e coberturas que inspirem, sempre com compromisso e uma visão crítica dos fatos.

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